As estatinas são agentes antilipêmicos
inibidores competitivos da enzima HMG-CoA redutase, enzima que catalisa a
conversão da HMG-CoA a mevalonato, um precursor do colesterol. São
fármacos eficazes em reduzir as concentrações plasmáticas das LDL-colesterol. Em doses usuais (20-40 mg) são bem toleradas,
apresentando baixa incidência de efeitos adversos. Entre os efeitos mais comuns
estão cefaleia, diarreia, fraqueza, fadiga, mialgia, aumento nos níveis da
hemoglobina glicosilada e glicose em jejum, podendo evoluir para quadros mais
graves como hepatotoxicidade, miopatia e insuficiência renal.
Todas as estatinas estão
associadas ao risco de rabdomiólise, uma miopatia caracterizada pela quebra do
músculo esquelético, que leva a liberação de proteínas presentes nas células
musculares na corrente sanguínea, como a mioglobina,
a lactato desidrogenase (LDH) e a creatinina quinase
(CK). A rabdomiólise é confirmada com aumento nos níveis plasmáticos dessas
proteínas. Os sintomas são dose-dependente e podem aparecer desde o
início da terapia. As manifestações clínicas podem iniciar com mialgia, dor nas
extremidades inferiores, dor nos ombros e fadiga associada a atividade física
sem elevações enzimáticas, ou ainda, com discreto aumento enzimático sem
mialgia até casos severos de insuficiência renal aguda e óbito. Quando o dano
muscular é extenso, os níveis de CK podem estar 10 vezes acima do normal, além
de dores, náusea, febre, vômito, urina escura. A urina se torna vermelho-marrom devido
aos altos teores de mioglobina liberados pelos rins. São fatores que
predispõe a ocorrência dessa patologia: sexo feminino, idade avançada, fragilidade,
comorbidades, hipotireoidismo, polifarmácia e interações com medicamentos como fibratos,
ácido nicotínico, ciclosporina, amiodarona, verapamil, digoxina, anlodipino,
antibióticos macrolídeos, abuso de álcool. Para pacientes de alto risco recomenda-se
realizar um doseamento de CK para controle e monitoramento do sintomas e níveis
séricos dessa enzima.
Existem diversas teorias sendo
investigadas para explicar esse efeito. Uma explica que o efeito adverso no
músculo envolve a interrupção da síntese de ubiquinona (CoQ10) devido
à inibição da produção de mevalonato, um de seus precursores. Isso ocorre pelo
mecanismo de inibição da HMG-CoA redutase que está na rota biossintética do
mevalonato. A ubiquinona está envolvida na produção de energia através da
cadeia respiratória mitocondrial. Outra, ligada à mesma rota, envolve a
ativação de proteínas regulatórias, como a proteína ligadora de guanosina
trifosfato (GTP), importantes no controle de apoptose conduzindo à morte
descontrolada de células. Há ainda outra, que envolve o enfraquecimento da
membrana celular pela redução do colesterol presente entre as cadeias
lipídicas.
Boletim sobre a possível associação entre o
uso de estatinas e miopatia pode ser lido em:
http://www.icf.uab.es/informacion/boletines/bg/bg264.13e.pdf
Boa leitura,
Equipe CIM-RS
Este material foi elaborado pela aluna de
graduação em Farmácia Franciele Gasperin, e revisado
pela farmacêutica Tatiane da Silva Dal Pizzol.
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