A losartana é
um antagonista seletivo e competitivo do receptor de angiotensina II usado para
tratamento de hipertensão arterial sistêmica, sendo um dos anti-hipertensivos
mais utilizados no Brasil. Nós, do CIM-RS, nos perguntamos se existem
evidências claras que justificam essa grande utilização de losartana.
Consultando as
Diretrizes Americanas para Manejo da Hipertensão Arterial1 ,
referência no assunto, os bloqueadores de receptores de Angiotensina como
tratamento inicial são recomendados em duas situações:
1.
Na população não-negra em geral, incluindo aqueles com
diabetes. Neste grupo, é preconizado tratamento anti-hipertensivo inicial com
um diurético tiazídico, bloqueador de canais de cálcio, Inibidor da Enzima
Conversora da Angiotensina, ou Antagonistas de Receptor de Angiotensina.
2.
Na população com 18 anos ou mais com Doença Renal
Crônica e hipertensão. Nestes casos, o tratamento anti-hipertensivo inicial ou
em associação deve incluir um Inibidor da Enzima Conversora da Angiotensina ou
Antagonista de Receptor de Angiotensina para melhorar os resultados nos rins.
Esta recomendação aplica-se a todos os pacientes com Doença Renal Crônica com
hipertensão, independentemente da raça ou presença de diabetes.
Para o primeiro
grupo, a diretriz aponta que as quatro classes de medicamentos são comparáveis
em relação a mortalidade e desfechos cardiovasculares, cerebrovasculares e
renais. Enquanto no segundo, os fármacos foram sugeridos avaliando-se os
desfechos em relação aos efeitos no sistema renal e não foi verificada
diferença significativa entre Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina
ou Antagonista de Receptor de Angiotensina.
No Brasil, até
2012 estavam registrados 5 medicametos da classe: candesartana, irbesartana,
losartana, olmesartana e telmisartana2, sendo que apenas a losartana
está presente na RENAME 20143. Uma metanálise4 analisando
os efeitos de losartana comparando-a com outros medicamentos de mesma classe
terapêutica, concluiu que losartana não apresenta eficácia anti-hipertensiva
superior em sua dose inicial ou máxima em 24 horas. Quando comparado
Antagonistas de Receptores de Angiotensina a outras classes farmacêuticas
usadas para o tratamento de hipertensão foi visto que:
1.
Antagonistas de Receptores de Angiotensina se mostram
tão efetivos quanto Inibidores da Enzima Conversora da Angiotensina na redução
de proteinúria e melhora na pressão sanguínea.5
2.
Diuréticos Tiazídicos se mostraram tão efetivos quanto
Antagonistas de Receptores de Angiotensina no controle de hipertensão em casos
de Doença Renal Crônica; entretanto os Diuréticos parecem ser mais efetivos em
termos de redução de proteinúria, de acordo com recente estudo clínico randomizado.
6
Estudo
realizado na USP para avaliar a relação custo-efetividade de combinações
farmacológicas, foi visto que o tratamento tradicional para hipertensão,
consistindo de hidroclorotiazida e atenolol, são mais custo-efetivos que o
tratamento com losartana e amlodipina para pacientes de nível 1 e 2 de
hipertensão7. Corroborando com outro estudo mais antigo, de 2002,
concluiu que diuréticos e beta-bloqueadores são mais custo-efetivos que outras
classes de antihipertensivos8.
Diante desses
achados, recomenda-se cautela na utilização de Antagonistas de Receptores de
Angiotensina e observância às recomendações da Diretriz Americana para Manejo
da Hipertensão Arterial.
Texto elaborado por Gustavo F Marcowich
Revisado por Farm. Tatiane da Silva Dal Pizzol
1.
Eighth
Joint National Committee. 2014 Evidence-Based Guideline for the Management of
High Blood Pressure in Adults. JAMA.
2014;311(5):507-520. doi:10.1001/jama.2013.284427
2.
Ramos, DC, Casali, ACG. Antagonistas dos receptores da
angiotensina II: uma revisão de classe. Revista
Saúde e Desenvolvimento. ano 1 n.2
jul- dez 2012
3.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência,
Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e
Insumos Estratégicos. Relação Nacional de Medicamentos Essenciais: Rename /
Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos,
Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. 7.ed. rev.
Brasília: Editora do Ministério da Saúde, 2014.
4.
Makani
H., Bangalore S., Supariwala A., Romero J., Argulian E., and Messerli F.H.
Antihypertensive efficacy of angiotensin receptor blockers as monotherapy as
evaluated by ambulatory blood pressure monitoring: a meta-analysis. European
Heart Journal (2014) 35, 1732–1742.
5.
Xu R,
Sun S, Huo Y, Yun L, Huang S, Li G, Yan S. Effects of ACEIs Versus ARBs on
Proteinuria or Albuminuria in Primary Hypertension: A Meta-Analysis of
Randomized Trials. Medicine (Baltimore). 2015 Sep;94(39):e1560. doi:
10.1097/MD.0000000000001560.
6.
Hayashi M, Uchida S, Kawamura T, Kuwahara M, Nangaku M,
Iino Y; PROTECT-CKD Study Group. Prospective randomized study of the tolerability and efficacy of
combination therapy for hypertensive chronic kidney disease: results of the
PROTECT-CKD study. Clin Exp Nephrol. 2015 Oct;19(5):925-32. doi:
10.1007/s10157-015-1091-5. Epub 2015 Feb 14.
7. Tsuji RL, Silva GV, Ortega KC,
Berwanger O, Mion Júnior D. An economic evaluation of antihypertensive
therapies based on clinical trials. Clinics (Sao Paulo). 2012;67(1):41-8.
8.
Dias
da Costa JS, Fuchs SC, Olinto MT, Gigante DP, Menezes AM, Macedo S, Gehrke S.
Cost-effectiveness of hypertension treatment: a population-based study. Sao
Paulo Med J. 2002 Jul 4; 120(4):100-4.