8 de jul. de 2014

Medicamentos para o tratamento sintomático de resfriados são realmente eficazes?

 Os resfriados são doenças muito comuns principalmente em períodos com elevadas mudanças climáticas, como acontece no inverno gaúcho. São mais frequentes em crianças do que em adultos e podem ser causados por mais de 200 vírus diferentes. Os sintomas muito conhecidos são febre, calafrios, cefaleia, tosse seca, dor de garganta, congestão nasal ou coriza, mialgia, anorexia e fadiga.

Apesar de serem doenças autolimitadas, que duram de 5 a 7 dias, os sintomas dos resfriados geram grande desconforto e têm forte impacto nas atividades diárias dos doentes, sendo a primeira causa de absenteísmo escolar e ao trabalho no mundo.  O tratamento é sintomático, sendo a hidratação muito importante. Antitérmicos, analgésicos, descongestionantes e anti-histamínicos são amplamente utilizados para aliviar a sintomatologia dos resfriados.
Muitas pessoas usam medicamentos de venda livre, popularmente conhecidos como ‘antigripais’, os quais foram reclassificados pela Anvisa como medicamentos para o “tratamento sintomático da gripe”. Esses medicamentos contêm associações de até quatro fármacos: analgésicos/anti-inflamatórios + descongestionantes sistêmicos + anti-histamínicos + estimulante (cafeína).  Os medicamentos que contiverem vasoconstritores sistêmicos de uso oral ou tópico nasal estão sujeitos à apresentação de prescrição médica.
Existem diversas especialidades farmacêuticas registradas na Anvisa com essa denominação, e o fato de que grande parte desse produtos é isenta de prescrição médica, o fácil acesso a esses medicamentos leva a prática da automedicação. Pensando na promoção do uso racional de medicamentos e considerando que os resfriados são doenças benignas, surge a pergunta: esses medicamentos são realmente eficazes?
Há uma Revisão Sistemática Cochrane, feita a partir de 27 estudos, com 5.117 pacientes, com o objetivo de avaliar a eficácia das combinações de descongestionante, analgésico e anti-histamínico na redução da duração e alívio dos sintomas do resfriado comum em adultos e crianças. Os autores concluíram que, apesar de escassos, os dados disponíveis sobre a eficácia das combinações para o tratamento sintomático da gripe mostram que há algum benefício geral para adultos e crianças mais velhas. No entanto, deve-se fazer um balanço entre os benefícios e o risco de eventos adversos, já que muitas pessoas experimentam reações adversas como sonolência, boca seca, insônia e tontura. A eficácia de cada agente isoladamente não foi avaliada nessa revisão.
Os autores  acrescentam que, em crianças pequenas, essas combinações não devem ser usadas, uma vez que não há nenhuma evidência da eficácia e que são potencialmente perigosas para essa faixa etária. Isto significa que as combinações testadas podem ser utilizadas em adultos e crianças mais velhas, a fim de melhorar os sintomas gerais do resfriado comum.
Confira a revisão sistemática Oral antihistamine-decongestant-analgesic combinations for the common cold, na íntegra, clicando aqui.

Boa leitura,
Equipe CIM-RS

Fontes:
-  De Sutter An IM, van Driel Mieke L, Kumar Anna A, Lesslar Olivia, Skrt Alja. Oral antihistamine-decongestant-analgesic combinations for the common cold. Cochrane Database of Systematic Reviews. In: The Cochrane Library, Issue 4, Art. No. CD004976. DOI: 10.1002/14651858.CD004976.pub2. Disponível em: http://www.bireme.br/php/index.php . Acesso em: 04 jul. 2014.
- DUNCAN, B.B.; SCHMIDT, M.I.; GIUGLIANI, E.R.J.; Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 2004.

- BRASIL. Agência Nacional de Vigilância Sanitária. Resolução RDC n.º 40, de 26 de fevereiro de 2003. Disponível em: http://portal2.saude.gov.br/saudelegis/LEG_NORMA_PESQ_CONSULTA.CFM  . Acesso em: 04 jul. 2014.