31 de mai. de 2016

O uso racional e a resistência aos antimicrobianos

Quando se fala em antimicrobianos surge a preocupação com a resistência1. A resistência a esses medicamentos se dá quando há a multiplicação das bactérias em concentrações maiores que as doses terapêuticas usuais2.  As bactérias alteram seu material genético (DNA), tornando-se resistentes, o que pode ocorrer de duas maneiras: pela indução de uma mutação no DNA da bactéria ou através da introdução de um DNA estranho1.
Vários fatores são indicados como responsáveis pela resistência, entre eles: o uso inadequado dos antimicrobianos e a não adesão às recomendações para a prevenção da transmissão de microrganismos1. Há também consequências decorrentes da má utilização dos antimicrobianos, como o aumento da morbidade e da mortalidade, prolongamento da internação hospitalar e a elevação dos custos de tratamento1. A resistência bacteriana é frequente nas unidades de terapia intensiva (UTI) e tem aumentado nos últimos anos1.
Para evitar a resistência, intervenções devem ser realizadas envolvendo os indivíduos (pacientes, prescritores e dispensadores) e as instituições. Elas podem ser divididas em três níveis de atuação: individual, institucional e do Estado. Dentre as intervenções individuais para pacientes destacam-se: a educação para o uso correto de antimicrobianos, educação sobre medidas preventivas contra infecções e desestímulo à automedicação com antimicrobianos. Já as intervenções individuais para prescritores e dispensadores contemplam a educação sobre a importância do uso adequado dos antimicrobianos, estímulo ao desenvolvimento e uso de protocolos e algoritmos de tratamento para promover o uso adequado, estímulo a lavagem de mãos entre as visitas aos pacientes e familiarização com os dados locais a respeito da resistência a antimicrobianos. No âmbito institucional e do Estado, as principais intervenções são: a criação de uma Comissão de Controle de Infecções, estímulo a educação permanente dos profissionais de saúde, difusão de dados sobre eficácia e segurança e custo de antimicrobianos, entre outros2.

A Necessidade de Novos Antimicrobianos

Aproximadamente 200.000 pessoas morrem a cada ano em decorrência da resistência a múltiplas drogas e tuberculose extremamente resistente a drogas. Estima-se que, atualmente, 700.000 mortes estejam relacionadas à resistência a antimicrobianos e que esse número passará para 10 milhões em 2050. Pouquíssimos novos antibióticos chegaram ao mercado nas duas últimas décadas; uma das razões é a dificuldade de desenvolver novas drogas, principalmente contra organismos Gram-negativos, outra razão é o pouco investimento nesse setor, tanto público como privado3.
Com o passar dos anos diminuiu significativamente a quantidade de novos antimicrobianos colocados no mercado. Entre 2008 e 2012, a agência norte-americana Food and Drug Administration (FDA), responsável por aprovar novos medicamentos nos Estados Unidos, aprovou o uso de apenas duas novas entidades moleculares de antimicrobianos4.
          Para acessar mais informações presentes em relatório publicado recentemente sobre a situação global da resistência a antimicrobianos, clique aqui.

Texto elaborado por Jacqueline Weis Bonfanti
Revisado por Tatiane da Silva Dal Pizzol


REFERÊNCIAS
1. http://www.anvisa.gov.br/servicosaude/controle/rede_rm/cursos/atm_racional/modulo1/objetivos.htm. Acessado em 19 de maio de 2016.
2. http://www.cff.org.br/sistemas/geral/revista/pdf/13/farmacoterapeutica.pdf. Acessado em 19 de maio de 2016.
3. O’Neill, Jim. TACKLING DRUG-RESISTANT INFECTIONS GLOBALLY: FINAL REPORT AND RECOMMENDATIONS. The Review on Antimicrobial Resistance. 2016, Maio. Disponível em: http://goo.gl/IhEqso. Acessado em 24 de maio de 2016.
4. Infectious Desease Society of America. Combating Antimicrobial Resistance. Clinical Infectious Deseases. 2011, 52:S397-S428.

19 de mai. de 2016

Cigarros eletrônicos: quando o mito será desvendado?

               


             O uso de tabaco, principalmente em cigarros, é uma das maiores causas de morte e doenças preveníveis no mundo. É estimado que mais de um sexto da população mundial é fumante e que 6 milhões de pessoas morrem por ano por doenças relacionadas ao fumo1.
               Há longa data alternativas de auxílio para o abandono desse hábito são criadas e estimuladas: grupos de apoio, adesivos de nicotina, apoio psicológico. Nos últimos anos, uma nova estratégia vem sendo promovida entre a população fumante e chamando a atenção até mesmo de não fumantes: o cigarro eletrônico, ou e-cigarette. O cigarro eletrônico vêm chamando a atenção por ser considerado mais seguro e menos nocivo a saúde que cigarros normais de nicotina2.  Mas será que isso é verdade?
Promovidos como uma alternativa para reposição de nicotina alternativa de manter o hábito de fumar, mas sem os malefícios da fumaça de combustão de todos os outros elementos presentes em um cigarro convencional, os cigarros eletrônicos vêm cada vez ganhando mais adeptos. Com seus primeiros representantes sendo apenas versões eletrônicas simples da sua versão convencional, a segunda geração de e-cigarettes permite regular a liberação de nicotina, controle de temperatura e de produção de vapor3,4. Além de uma grande variedade de cores, formatos e combinações, tornando fumar “divertido”. Entretanto não se tem certeza ainda do quão seguros e eficientes estes novos cigarros são.
          Em estudo realizado com 150 médicos nos Estados Unidos, dois terços dos entrevistados relataram já terem sido perguntados sobre cigarros eletrônicos por pacientes, mas somente metade destes admitiu ter recomendado o seu uso5. Entretanto, muitos fumantes acabam não falando com seus médicos sobre o assunto e preferem consultar linhas telefônicas de ajuda para o abandono de cigarro e acabam conversando muitas vezes com conselheiros leigos fora da área da saúde. Estudo realizado na américa do Norte em 2014 demonstrou que a maioria destes conselheiros não vê e-cigarettes como uma boa alternativa para parar de fumar e até mesmo que são viciantes6.
      Uma revisão sistemática publicada esse ano analisou qualitativamente e quantitavamente a literatura sobre os efeitos de cigarros eletrônicos.       Esta revisão mostrou que não é possível concluir se cigarros eletrônicos são efetivos como auxílio para parar de fumar devido à baixa força das evidências. Existe alguma informação indicando que e-cigarettes de segunda geração podem ajudar fumantes a largar o hábito de maneira mais eficaz que os de primeira geração, por diminuírem o aparecimento de sintomas e ânsias relacionados a falta de nicotina7.
          Cigarros eletrônicos também vêm causando alvoroço por serem permitidos em alguns lugares públicos pelo argumento de não fazem mal a saúde. Estudo realizado avaliou a quantidade de nicotina presente em fluidos orais e respiração de fumantes passivos em lugares fechados, mostrando que exposição a cigarros eletrônicos resulta a cerca de 7 vezes menos nicotina na respiração e 3 vezes menos em fluídos orais que cigarros convencionais de tabaco, entretanto não discute se essa concentração de nicotina poderia já ser considerada segura8.
            Alguns estudos ainda mostraram que existe uma pequena tendência de e-cigarettes promoveram um menor risco cardiovascular que cigarros convencionais pela não combustão do tabaco10,11. Ainda assim mais estudos com maior profundidade e solidez devem ser realizados para que seja possível afirmar com certeza se cigarros eletrônicos são realmente melhores ou não que cigarros convencionais para a saúde.


Texto elaborado por 
Gustavo F Marcowich
Revisada por
Tatiane Dal Pizzol

  1. (Jha P. Avoidable global cancer deaths and total deaths from smoking. Nat Rev Cancer. 2009;9(9):655–64. doi: 10.1038/nrc2703.)
  2. Wong LP1, Mohamad Shakir SM2, Alias H2, Aghamohammadi N2, Hoe VC2., Reasons for Using Electronic Cigarettes and Intentions to Quit Among Electronic Cigarette Users in Malaysia. J Community Health. 2016 May 4. & Pepper JK1, Emery SL2, Ribisl KM1, Southwell BG3, Brewer NT1. Effects of advertisements on smokers' interest in trying e-cigarettes: the roles of product comparison and visual cues. Tob Control. 2014 Jul;23 Suppl 3:iii31-6. doi: 10.1136/tobaccocontrol-2014-051718.)
  3. Dawkins L, Kimber C, Puwanesarasa Y, Soar K. First- versus second-generation electronic cigarettes: predictors of choice and effects on urge to smoke and withdrawal symptoms. Addiction. 2015 Apr;110(4):669-77. doi: 10.1111/add.12807. Epub 2014 Dec 22.
  4. Lechner WV, Meier E, Wiener JL, Grant DM, Gilmore J, Judah MR, Mills AC, Wagener TL. The comparative efficacy of first- versus second-generation electronic cigarettes in reducing symptoms of nicotine withdrawal. Addiction. 2015 May;110(5):862-7. doi: 10.1111/add.12870. Epub 2015 Mar 5.
  5. (Steinberg MB1, Giovenco DP2, Delnevo CD3. Patient-physician communication regarding electronic cigarettes. Prev Med Rep. 2015 Feb 2;2:96-8. doi: 10.1016/j.pmedr.2015.01.006. eCollection 2015.
  6. Sharon Cummins a,e, Scott Leischow b, Linda Bailey c, Terry Bushd, KenWassum d, Lesley Copeland e, Shu-Hong Zhu. Knowledge and beliefs about electronic cigarettes among quitline cessation staff. Addictive Behaviors 60 (2016) 78–83 )
  7. Malas M, van der Tempel J, Schwartz R, Minichiello A, Lightfoot C, Noormohamed A, Andrews J, Zawertailo L, Ferrence R. Electronic Cigarettes for Smoking Cessation: A Systematic Review. Nicotine Tob Res. 2016 Apr 25. pii: ntw119
  8. Gallart-Mateu D, Elbal L, Armenta S, de la Guardia M. Passive exposure to nicotine from e-cigarettes. Talanta. 2016 May 15;152:329-34. doi: 10.1016/j.talanta.2016.02.014. Epub 2016 Feb 3.
  9. Soule EK, Maloney SF, Spindle TR, Rudy AK, Hiler MM, Cobb CO. Electronic cigarette use and indoor air quality in a natural setting. Tob Control. 2016 Feb 15. pii: tobaccocontrol-2015-052772. doi: 10.1136/tobaccocontrol-2015-052772
  10. Neal L. Benowitz, MD and Andrea D. Burbank, MD. Cardiovascular toxicity of nicotine: Implications for electronic cigarette use. Trends Cardiovasc Med. 2016 Mar 10. pii: S1050-1738(16)00053-0. doi: 10.1016/j.tcm.2016.03.001
  11. Yan XS, D'Ruiz C. Effects of using electronic cigarettes on nicotine delivery and cardiovascular function in comparison with regular cigarettes. Regul Toxicol Pharmacol. 2015 Feb;71(1):24-34. doi: 10.1016/j.yrtph.2014.11.004. Epub 2014 Nov 22.

12 de mai. de 2016

PERGUNTE AO CIM-RS: É possível substituir o uso de lorazepam por bromazepam no tratamento da ansiedade?


Bromazepam e Lorazepam são benzodiazepínicos usados para o tratamento de ansiedade. 

Recebemos no CIM-RS um questionamento sobre a substituição de um pelo outro.

Será que é possível?

Confere aqui nossa resposta!




Voltou!



A seção de PERGUNTE AO CIM-RS está de volta ao nosso blog!

Mensalmente, iremos selecionar e disponibilizar uma questão respondida pelo CIM-RS a partir da solicitação de um profissional de saúde

Fique atento, a dúvida de um colega pode ser a sua! Confira em breve a pergunta do mês de Maio.

Boa leitura!


Equipe do CIM-RS

5 de mai. de 2016

A Automedicação na Semana do Uso Racional de Medicamentos


             

             Entre os dias 05 e 11 de maio acontece a Semana do Uso Racional de Medicamentos no Rio Grande do Sul, sendo o dia 05 de maio o Dia Nacional pelo Uso Racional de Medicamentos. Com base em ações do movimento de estudantes de farmácia e posteriormente apoiado e ampliado pelo CRF/RS, originou-se o Projeto de Lei 53/2014 aprovado pela Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul em 25 de novembro de 2014. ¹
                No contexto do uso racional de medicamentos, fala-se muito em automedicação. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a automedicação é definida como a seleção e uso de medicamentos pelos indivíduos para tratar doenças ou sintomas autorreconhecidos, sendo um elemento de autocuidado. ²
                A automedicação possui tanto benefícios quanto riscos para a saúde da população. Entre os benefícios está a resolução de transtornos menores, como resfriados, diminuindo custos para o paciente e para o sistema de saúde, além de diminuir esperas para atendimentos. Todavia, pode apresentar riscos, como erro de diagnóstico, escolha inadequada do medicamentos e duração inadequada do tratamento. ³
                A prática da automedicação é um fenômeno mundial e comum.  Nesse contexto, a socióloga portuguesa Noémia Lopes traz uma abordagem sociológica do assunto, onde ela propõe que a automedicação não deva ser considerada apenas como desvio da intervenção médica. Em sua tese, ela reflete sobre alguns aspectos da automedicação pouco debatidos pela sociedade, como as estratégias profissionais de poder que se desenvolvem em torno da automedicação, e a apropriação leiga dos saberes profissionais.  Em um estudo realizado com 309 indivíduos, com diferentes faixas etárias e condições de saúde, a pesquisadora traz resultados interessantes sobre as relações leigas com a automedicação.4 Para acessar os resultados da pesquisa, clique aqui.

Texto elaborado por Jacqueline Weis Bonfanti e Gustavo Marcowich. Revisado por Tatiane Del Pizzol.

¹ Conselho Regional de Farmácia-RS, AL-RS aprova semana estadual do Uso Racional de Medicamentos, (disponível em https://crfrs.org.br/portal/pagina/noticias-detalhes.php?idn=1273. Acesso em 04 de maio de 2016)
² WHO. The Role of the Pharmacist in Self-Care and Self-Medication. The Netherlands; 1998.
³ PONS, Emilia da Silva. “Autogestão do Uso de Medicamentos pela População”. Porto Alegre: Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016.

4 Lopes, Noémia Mendes. “Automedicação: algumas reflexões sociológicas”. Sociologia, Problemas e Práticas  n.37 Oeiras nov. 2001

4 de mai. de 2016

Funcionamento do CIM/RS dia 06/05/16

Informamos que o CIM-RS funcionará dia 06/05/16, excepcionalmente, entre 13:30h e 17:30h.
Agradecemos a compreensão.

Atenciosamente,
Equipe CIM-RS