27 de set. de 2016

Luta pelo Medicamento



Celebrou-se em setembro o dia nacional da luta pelo medicamento, uma realidade para parte da população brasileira. O medicamento é uma tecnologia de saúde essencial, e pode ser obtido, por exemplo, diretamente em farmácias comerciais (com ou sem subsídio de programas oficiais), em farmácias hospitalares durante internação clínica, e em farmácias do serviço público de saúde (SUS).

O Componente Especializado da Assistência Farmacêutica é uma das estratégias de acesso a medicamentos no âmbito do SUS, e é caracterizado pela busca da garantia da integralidade do tratamento medicamentoso, em nível ambulatorial, cujas linhas de cuidado estão definidas em Protocolos Clínicos e Diretrizes Terapêuticas publicados pelo Ministério da Saúde­1. Estes medicamentos, antigamente categorizados como “de alto custo”, visam garantir o acesso ao tratamento medicamentoso de doenças raras, de baixa prevalência ou de uso crônico prolongado com alto custo unitário2. Envolvendo Ministério da Saúde, Secretaria Estadual da Saúde e Secretaria Municipal da Saúde, cada uma com as suas competências, o programa é regido por legislação específica que pode ser visualizado aqui .

No Rio Grande do Sul, para o paciente ter acesso ao medicamento do Componente Especializado, é necessário que vá até a Secretaria Municipal de Saúde do seu município para solicitar administrativamente que seja aberto um Processo Administrativo, e entregue, pelo menos, dois documentos: o "LME (Laudo para Solicitação de Medicamento Especializado, que é emitido pelo médico) e o Formulário "Cadastro de Usuários"(SAUDE-RS), que estão disponíveis, junto com mais informações no site da Secretaria Estadual da Saúde.                                                                                                                                                   
            Existem também iniciativas do Governo Federal que visam ampliar o acesso aos medicamentos e contribuir à Política Nacional de Assistência Farmacêutica, como o Programa Farmácia Popular, que possui medicamentos a custos reduzidos ou isentos para a população. Possui duas modalidades, a rede própria e os convênios “Aqui tem Farmácia Popular”. O Programa Farmácia Popular atende pacientes que tenham receitas de origem SUS, convênios ou particular. A condição para a aquisição dos medicamentos disponíveis nas unidades, neste caso, é a apresentação de documento com foto, no qual conste seu CPF, juntamente com uma receita médica (rede própria e Aqui tem Farmácia Popular) ou odontológica (somente rede própria)3. Consulte a farmácia mais próxima para esclarecimentos3.

            Na rede própria, o programa conta com 112 itens, entre medicamentos e preservativo masculino, os quais são dispensados a um valor reduzido de até 90% do valor de mercado3.

            O programa Aqui Tem Farmácia Popular é um convênio entre as farmácias da iniciativa privada e o sistema público de saúde visando disponibilizar medicamentos essenciais de baixo custo a mais lugares e pessoas, mesmo as que não buscam a assistência do SUS. Neste programa, são atualmente disponibilizados medicamentos para tratamento de hipertensão, diabetes, dislipidemia, osteoporose, rinite, Parkinson, asma e glaucoma além de contraceptivos, fraldas geriátricas e fosfato de oseltamivir, utilizado no tratamento da Gripe A (H1N1)3.

            Em 2011, foi iniciada no Programa Farmácia Popular a campanha Saúde Não Tem Preço3 para oferecer ao paciente medicamentos gratuitos para o tratamento de hipertensão e diabetes; em 2016, três medicamentos para tratamento da asma foram incluídos à campanha3

            Existem também ações do Governo Federal e das Agências de Saúde que visam um melhor acesso a medicamentos para pacientes que utilizam planos de saúde. Em 2015, por exemplo, foi publicada a Resolução Normativa n° 387 que atualizou o rol de procedimentos e eventos em saúde com cobertura assistencial mínima nos planos privados de assistência à saúde. A partir de então, os planos disponibilizam medicamentos antineoplásicos orais para uso domiciliar, assim como medicamentos para o controle de efeitos adversos e adjuvantes de uso domiciliar relacionados ao tratamento antineoplásico oral e/ou venoso4. Essa é uma medida importante, pois propicia maior conforto e comodidade para o paciente e reduz os casos de internação para tratamento em clínicas ou hospitais5.


            Existem, portanto, diversas alternativas para o paciente ter maior acesso a medicamentos, a um custo menor e com maior racionalidade, tanto no âmbito público quanto no privado. A divulgação dessas  informações evidencia a função social do CIM-RS para contribuição ao uso racional do medicamentos, fornecendo informação de qualidade à população e aos profissionais de saúde. 

Texto elaborado por Gustavo F Marcowich
Revisado por Tatiane da Silva Dal Pizzol e Alexandre A. de T. Sartori

1.     BRASIL MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n° 1554 de julho de 2013. Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2013/prt1554_30_07_2013.html Acessado em 26/09/2016
2.     RIO GANDE DO SUL. SECRETARIA ESTADUAL DA SAÚDE. Componente Especializado. Disponível em: http://www.saude.rs.gov.br/lista/153/Componente_Especializado Acessado em: 26/09/2016
4.     BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. Resolução Normativa n° 387 de 29 de outubro de 2015. Disponível em: http://www.ans.gov.br/component/legislacao/?view=legislacao&task=TextoLei&format=raw&id=MzExMA== Acessado em: 26/09/2016
5.     BRASIL. AGÊNCIA NACIONAL DE SAÚDE SUPLEMENTAR. ANS amplia tratamento para pacientes com câncer. Disponível em: http://www.ans.gov.br/a-ans/sala-de-noticias-ans/consumidor/2467-ans-amplia-tratamento-para-pacientes-com-cancer- Acessado em: 26/09/2016

16 de set. de 2016

Os Benefícios do Vinho






O vinho é fundamental na vida de muitos brasileiros, principalmente nas regiões que tiveram colonização italiana, sendo que a bebida faz parte da culturalocal. Muito antes disso, egípcios, gregos e romanos utilizavam essa bebida em sua dieta, inclusive já com uma certa ideia de que o seu consumo poderia trazer benefícios a saúde. Os gregos, há cerca de 3.000 anos, representam a primeira civilização conhecida a realizar o uso terapêutico de vinho, visto que em sua cultura se acreditava ser um presente dos deuses1.
Recentemente os potenciais benefícios terapêuticos do vinho vem ganhando força, sendo tratado amplamente pela imprensa. É dito que o vinho traz diversos benefícios como atividade anti-inflamatória, neuroproteção em muitas doenças neurodegenerativas e até mesmo redução no risco de desenvolvimento de doenças coronarianas e câncer2. O principal agente dito responsável por tais efeitos é um polifenol presente na bebida: o resveratrol.

Mas o quão esse efeito é realmente considerável?

Em uma metanálise de ensaios clínicos randomizados, Liu e colaboradorestestaram os feitos do resveratrol na diminuição da pressão sanguínea. Pacientes que receberam resveratrolisolado por no mínimo 2 semanas foram comparados com grupo controle onde a diferença tenha sido apenas a ingestão de resveratrol.Os resultados apontaram que oresveratrol não diminuiu a pressão sanguínea sistólica ou diastólica, mesmo considerando a interferência do IMC, dose de resveratrol e duração de estudo3.
Emuma meta-análise de estudos de coorte, Huxley & Neil (2003) verificaram que o consumo elevado de flavonol na dieta, outro elemento importante presente não apenas no vinho, mas também em alguns tipos de chás, frutas e vegetais, resultou em um menor risco de doenças coronarianas. O chá verdee preto foramas principais fontes de flavonol no grupo de maior consumo diário da substância; frutas e vegetais, como uvas, amendoins, morangos, brócolis e cebola, nos grupos de menor consumo.O estudo, entretanto, admite diversas limitações como a interferência de outros fatores nos resultados (classe social, atividade física, tabagismo), o auto-relato que pode ter alterado as relações propostas, e outros elementos da dieta (gordura, colesterol, calorias totais) que podem explicar a diminuição de 20% no risco de desenvolvimento de doenças coronarianas4.
Em outra revisão,Woo & Kim (2013)não encontraram qualquer relação entre o consumo de flavonóides e redução no risco de câncer gástrico ou coloretal, embora sugira uma fraca associação inversa quando analisadas subclasses de flavonóis separadamente5. Cabe destacar que o álcool está presente normalmente em concentrações de 10 a 14 % em vinhos de mesa2, sendo considerado um dos principais vilões no desenvolvimento de câncer gástrico. Em outro estudo, foi verificado que a ingestão de cerveja e licores contribuiu positivamente para o desenvolvimento de câncer gástrico, mas vinho não6.
Diante desses achados, questiona-se a grande propaganda que se faz para o uso de suplementação de resveratrol para prolongamento da expectativa de vida, redução de risco de doença coronariana e câncer. Ainda assim, o flavonol parece ser um potencial alvo para novas pesquisas que visam investigar não apenas os potenciais benefícios do vinho, mas também de outras bebidas como os chás verde e preto, e frutas e vegetais, mencionadas anteriormente.

Texto elaborado por Gustavo F Marcowich
Revisado por Professora Tatiane da Silva Dal Pizzol

1.     Estreicher, S.K. Wine from neolithic times to the 21st century. Algora. New York. Algora Publishing. 2006. Disponível em: https://vinumvine.files.wordpress.com/2012/02/stefan-k-estreicher-wine-from-neolithic-times-to-the-21st-century.pdf
2.     Dermarderosian A.;Beutler, J. A. (Ed) The Review of Natural Products: the most complete source of natural product information. 7. ed. St. Louis: Facts and Comparisons, 2012.
3.     Liu Y, Ma W, Zhang P, He S, Huang D. Effect of resveratrol on blood pressure: a meta-analysis of randomized controlled trials. ClinNutr. 2015 Feb;34(1):27-34. doi: 10.1016/j.clnu.2014.03.009. Epub 2014 Mar 31
4.     Huxley RR, Neil HA. The relation between dietary flavonol intake and coronary heart disease mortality: a meta-analysis of prospective cohort studies. Eur J Clin Nutr. 2003 Aug;57(8):904-8.
5.     Hae Dong Woo and Jeongseon Kim. Dietary flavonoid intake and risk of stomach and colorectal cancer. World J Gastroenterol. 2013 Feb 21; 19(7): 1011–1019.
6.     Fang X, Wei J, He X, An P, Wang H, Jiang L, Shao D, Liang H, Li Y, Wang F, Min J. Landscape of dietary factors associated with risk of gastric cancer: A systematic review and dose-response meta-analysis of prospective cohort studies. Eur J Cancer. 2015 Dec;51(18):2820-32. doi: 10.1016/j.ejca.2015.09.010. Epub 2015 Nov 14

13 de set. de 2016

Informativo

O CIM-RS estará fechado amanhã pois o grupo estará participando do Salão de Extensão UFRGS no período da manhã.

Quinta-feira retomaremos nossas atividades normalmente.

9 de set. de 2016

Setembro Amarelo




Doenças Mentais vêm acometendo cada vez mais pessoas provenientes de lugares e classes sociais diversas. Em algumas circunstâncias, podem levar a medidas extremas como o suicídio. Para aumentar a visibilidade para este problema e discuti-lo, foi criado o Dia Mundial da Prevenção ao Suicídio (10 de setembro) e instituído o Setembro Amarelo. De acordo com pesquisa realizada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 800.000 mortes por suicídio ocorrem a cada ano em todo mundo, predominantemente em pessoas jovens, apontando mudança de perfil no grupo de afetados1. No Brasil, a taxa de suicídios é de 4,1 por 100 mil habitantes, variando com a região do país. No Sul, temos a taxa de suicídios mais alta: 25,2 por 100 mil habitantes, ou seja, mais de seis vezes a taxa nacional2.

            Pesquisa divulgada recentemente por pesquisadoras de Londrina, PR visando analisar as tentativas de suicídio por sobredose intencional de medicamentos corrobora com os resultados da pesquisa da OMS, mostrando a mudança de perfil dentre as pessoas atentando o suicídio.  O estudo mostra que mais de 40% das hospitalizações por tentativa de suicídio são decorrentes da auto-intoxicação consciente de medicamentos, em sua maioria antidepressivos, tranquilizantes e anticonvulsivantes. Isso mostra que o problema maior não é um erro não-intencional durante a auto-medicação, mas sim o uso e prescrição indiscriminados destes medicamentos2. Para acessar os resultados deste estudo, clique aqui.

            Em 2006 foi publicada pelo Ministério da Saúde a Portaria 1.876 que Institui Diretrizes Nacionais para Prevenção do Suicídio, que devem ser seguidas pelos diversos níveis de administração pública e outras instituições da sociedade com o objetivo de desenvolver e fortalecer as medidas de prevenção e de assistência ao suicídio. Propõe um conjunto de ações no âmbito dos diversos dispositivos e das equipes de saúde mental, com a finalidade de mantê-las articuladas com a Política Nacional de Saúde Mental3,4.
           
Cabe ao profissional de saúde estar atento a comportamentos que possam sinalizar uma conduta potencialmente suicida. A melhor maneira de descobrir é perguntar para a pessoa.  Ao contrário da crença popular, falar a respeito de suicídio não introduz a idéia nas pessoas, podendo até tranquilizá-la por poder falar sobre o assunto5. O Ministério da Saúde organizou uma cartilha visando instruir profissionais da saúde sobre o tema e como abordar os pacientes. Para acessar, clique aqui.

Em Porto Alegre, RS, o Programa de Pós-Graduação em Psiquiatria e Ciências do Comportamento e a Liga de Medicina Legal e Psiquiatria Forense da Faculdade de Medicina da UFRGS organizam atividades para a campanha do Setembro Amarelo6.

Se você precisa de ajuda ou conhece alguém que possa precisar, acesse: http://www.cvv.org.br/ ou ligue 141.

Texto elaborado por Gustavo F Marcowich
Revisado por Tatiane da Silva Dal Pizzol

1.     World Health Organization. Suicide. http://www.who.int/mental_health/prevention/suicide/suicideprevent/en/ (acessado em 14/Fev/2008). 
2.     Bernardes, SS, Turini, CA, Matsuo, T. Perfil das tentativas de suicídio por sobredose intencional de medicamentos atendidas por um Centro de Controle de Intoxicações do Paraná, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, 26(7):1366-1372, jul, 2010).
3.     REBRAS. Rede Brasileira de Prevenção ao Suicídio. Estratégia Nacional de Prevenção do Suicídio: suas diretrizes. Disponível em: http://www.rebraps.com.br/2014/09/estrategia-nacional-de-prevencao-do.html Acessado em: 22/08/2016
4.     BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Portaria n° 1876 de 14 de agosto de 2006. DIsponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/saudelegis/gm/2006/prt1876_14_08_2006.html Acessado em: 22/08/2016)
5.     BRASIL. MINISTÉRIO DA SAÚDE. Prevenção do Suicídio: Manual dirigido a profissionais das equipes de saúde mental. Disponível em: http://www.cvv.org.br/downloads/manual_prevencao_suicidio_profissionais_saude.pdf

6.     UFRGS. Psiquiatria organiza atividades no mês de prevenção ao suicídio. Disponível em: http://www.ufrgs.br/ufrgs/noticias/psiquiatria-organiza-atividades-no-mes-de-prevencao-ao-suicidio Acessado em: 02/09/2016

2 de set. de 2016