O envelhecimento da população é tido
como uma característica de países desenvolvidos, pois reflete a melhoria nas
condições de vida da população e os avanços da medicina. O Brasil, com suas
mudanças sociais e políticas ocorridas nos últimos anos, alcançou esse patamar
de crescimento da população idosa. Dados da Secretaria Nacional de Direitos
Humanos mostram um crescimento de 55% da população idosa desde 2001, o que
equivale a 10% da população total ter mais de 60 anos. E a projeção é que
cresça cada vez mais, podendo chegar a cerca de 12% da população total em 2020
e até 30% em 20501.
Assim como em outros ramos da
sociedade, para os profissionais de saúde é muito importante saber lidar com
essa mudança do perfil demográfico, visto que idosos necessitam de cuidados e
atenção diferenciada. O idoso apresenta mudanças fisiológicas que podem causar
debilitações e mal funcionamento do organismo e, consequentemente, alterações
nos padrões farmacocinéticos de determinados fármacos2. É comum a
coexistência de múltiplas condições clínicas, gerando maior cautela na escolha
e avaliação do tratamento. Com o aumento da idade, aumenta a chance de uso
contínuo de medicamentos, pelo desenvolvimento de doenças crônicas3.
Quanto às modificações fisiológicas que ocorrem no corpo dos idosos, é
importante ressaltar que nem todas as pessoas passam pelas mesmas mudanças ao
mesmo tempo e não existe uma perda de função mais acelerada de cada órgão, mas
sim um acúmulo de um maior número de sistemas em declínio funcional4.
Em relação a absorção dos fármacos, embora não
existam evidências substanciais que seja alterada fortemente, pode ocorrer por
mudança nos hábitos nutricionais, aumento no uso de fármacos não prescritos e
mudanças no esvaziamento gástrico. Idosos também possuem uma menor massa e menor
volume de água corporais, aumento na proporção de tecido adiposo, além da
diminuição de albumina sérica, que dificulta a distribuição de determinados
fármacos com características de ácidos fracos pelo organismo. Em contrapartida,
existe um aumento de alfa-1 glicoproteína que liga diversos fármacos de bases
fracas. Por exemplo, a dose inicial de digoxina em pacientes idosos deve ser
diminuída devido ao volume aparente de distribuição diminuído. A capacidade do
fígado metabolizar fármacos também é reduzida, com uma permanência por mais
tempo da porção ativa do fármaco na circulação ou uma demora no início de ação
em pró-fármacos que necessitam ser metabolizados para terem sua ação. Já o rim,
como principal órgão envolvido na eliminação de fármacos, a diminuição de sua
função é de vital importância e deve ser avaliada. A principal marca desse
declínio de função é o aumento da meia-vida de diversos fármacos e a
possibilidade de acúmulo em níveis tóxicos das substâncias4.
Outro importante fator que resulta em
uma menor efetividade do tratamento é a questão da adesão. Não raramente, o
tratamento farmacológico destes pacientes envolve um alto número de medicamentos
(polifarmácia) 2. Embora não exista uma definição específica de
“polifarmácia”, tem sido caracterizada pelo uso de 4 ou mais medicamentos.
Com o uso de diversos medicamentos, aumentam as chances de reações adversas e
interações medicamentosas, o que reforça ainda mais a necessidade de uma
efetiva orientação pelo farmacêutico, tanto centradas no paciente quanto na
equipe de saúde 2,5.
Resumindo, devido a mudança no perfil
farmacocinético e no maior número de problemas crônicos em pessoas idosas,
é necessária atenção redobrada neste grupo populacional. O farmacêutico pode
desempenhar um papel fundamental na análise das prescrições e no acompanhamento
farmacoterapêutico, elementos essenciais da Assistência Farmacêutica.
Texto elaborado por Gustavo F Marcowich
Revisado por Prof. Farm. Tatiane da Silva dal Pizzol
1.
BRASIL. SECRETARIA DE DIREITOS HUMANOS. Dados sobre envelhecimento no
Brasil. 2012. Disponível em: http://www.sdh.gov.br/assuntos/pessoa-idosa/dados-estatisticos/DadossobreoenvelhecimentonoBrasil.pdf Acessado em:
17/10/2016
2.
BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos
Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos.
Formulário terapêutico nacional 2010: Rename 2010 / Ministério da Saúde,
Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de
Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Brasília: Ministério da Saúde,
2010.
3.
Williams, Brie;
Chang, Anna. Current Diagnosis and Treatment: Geriatrics. 2ª Edição. Estados
Unidos: McGraw-Hill Education, 2014.
4.
Katzung, BG;
Trever, AJ. Basic & Clinical Pharmacology. 13ª Edição. Estados Unidos: McGraw-Hill
Education, 2015).
5. Patterson SM e al. Interventions to improve the appropriate use of
polypharmacy for older people. Cochrane Database Syst Rev. 2014 Oct
7;(10):CD008165. doi: 10.1002/14651858.CD008165.pub3.