A população mundial vem ganhando peso
corporal, e a brasileira não fica para trás. Pesquisa realizada em 2014 em 26
capitais brasileiras, denominada Vigitel (Vigilância de Fatores de Risco e
Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico), revelou que 52,5% da
população brasileira estava acima do peso. Segundo esta pesquisa, 51,8% dos
moradores de Porto Alegre estavam com excesso de peso. A capital com maior
número de pessoas nessa situação foi Rio Branco, com 60,8%. Porto Alegre também
possuía 18,2% de pessoas obesas, um número alto quando comparado à capital com
menor proporção de pessoas obesas, Goiânia, com 14 %. 1,2.
Considerada
um dos principais problemas de saúde pública na atualidade, por ser um fator de
risco para doenças crônicas como diabetes, doenças cardiovasculares e câncer, a
obesidade pode ser classificada de diversas formas. A mais usada é o IMC
(Índice de Massa Corporal), que relaciona peso e altura do indivíduo. Sobrepeso
é caracterizado por um IMC entre 25 a 29,9 e grau I de obesidade, a partir de
30 até 34,9 3. Por conta da alta prevalência e dos problemas que
pode causar, há diversos programas de saúde pública em todo mundo para tentar
diminuir os índices desta condição.
Revisão
sistemática e metanálise publicada em 2013 avaliou a influência de algumas
medidas terapêuticas na manutenção e melhora na perda de peso após dietas com
baixo valor calórico. Esta pesquisa, que incluiu 27 estudos com mais de 3000
participantes no total, verificou que fármacos antiobesidade, reposição
alimentar e dietas com alta proporção de proteínas foram efetivas em aumentar a
perda de peso, enquanto exercício físico e suplementação alimentares (como chá
verde, suplementações com ácido linoleico conjugado, óleos e fibras) não demonstraram
aumento da perda de peso, mas foram suficientes para manter o peso. Isso
demonstra que existem outras alternativas ao uso de fármacos para manutenção e
perda de peso. Alternativas que, em geral, possuem efeitos adversos em menor
prevalência e gravidade. Entretanto, esta pesquisa apresentou algumas
limitações como o baixo número de estudos clínicos randomizados que compararam o
uso de exercícios e fármacos antiobesidade4.
No
caso de crianças, mudanças comportamentais na família como um todo levam a
efeitos positivos na perda de peso quando o IMC é avaliado em crianças e
adolescentes. Estas mudanças incluem adequação da dieta, prática de atividade
física e/ou intervenção com terapia comportamental. Quando usados juntamente
com mudanças no estilo de vida em crianças obesas, o uso de medicamentos, como
sibutramina, resultou em uma perda ainda maior de peso, embora com o
aparecimento frequente de efeitos adversos característicos, como taquicardia e
hipertensão. Portanto, o efeito farmacológico resultante do uso de medicamentos
deve ser balanceado com os problemas que estes possam causar no momento de
estabelecer o plano terapêutico nessa faixa etária. Ainda assim, mais estudos
são necessários para determinar qual a melhor abordagem a ser usada em crianças
e adolescentes e que resulte na perda de peso de maneira saudável5.
O
Brasil por muito tempo foi o maior consumidor de medicamentos inibidores de
apetite usados contra obesidade. Entretanto, nos últimos anos vêm apresentando
um panorama heterogêneo em relação ao consumo de tais medicamentos, ou seja, o
número de dispensações vem se distribuindo de forma diferente de acordo com a
cidade: aumentando, diminuindo ou se mantendo o mesmo6. Entretanto,
evidências apontam para outros métodos tão efetivos quanto os medicamentos que
não possuem os potenciais efeitos adversos que medicamentos, como a
sibutramina, podem causar. 7
A aquisição de hábitos alimentares e
estilo de vida saudáveis ainda é a primeira abordagem a ser utilizada pela
pessoa que necessita perder peso. A utilização de medicamentos deve ser
reservada a situações muito específicas, e deve ser feita somente com
prescrição médica e com a orientação do farmacêutico para o uso adequado.
Texto elabotado por Gustavo F Marcowich
Revisado por Prof. Farm. Tatiane da Silva Dal Pizzol
3.
HALPERN, A; MANCINI, M. C. Obesidade e Síndrome Metabólica para o
Clínico. São Paulo: Rocca, 2009.
4.
Johansson K,
Neovius M, Hemmingsson E. Effects of anti-obesity drugs, diet, and exercise on
weight-loss maintenance after a very-low-calorie diet or low-calorie diet: a
systematic review and meta-analysis of randomized controlled trials. Am J Clin Nutr. 2014
Jan;99(1):14-23. doi: 10.3945/ajcn.113.070052. Epub 2013 Oct 30.
5. Oude Luttikhuis H, Baur L, Jansen H, Shrewsbury VA, O'Malley C, Stolk
RP, Summerbell CD. Interventions for treating obesity in children. Cochrane
Database Syst Rev. 2009 Jan 21;(1):CD001872. doi: 10.1002/14651858.CD001872.pub2.
7. Siebenhofer A, Jeitler K, Horvath K, Berghold A, Posch N, Meschik J,
Semlitsch T. Long-term effects of weight-reducing drugs in people with
hypertension. Cochrane Database Syst Rev. 2016 Mar 2;3:CD007654. doi:
10.1002/14651858.CD007654.pub4.