30 de mar. de 2017

O uso de benzodiazepínicos é fator preditivo para o desenvolvimento de Alzheimer?

A doença de Alzheimer se apresenta como demência, ou perda de funções cognitivas (memória, orientação atenção e linguagem), e é comumente associada à idade avançada1. Será que o uso de benzodiazepínicos pode ser um fator preditivo para o surgimento da morbidade?
Uma revisão sistemática de Zhong et al, apresentou resultados que indicam que os benzodiazepínicos aumentam o risco para o desenvolvimento de Alzheimer. Os autores concluíram que, embora os achados mostrem que pessoas em uso prolongado de benzodiazepínicos têm maior risco de Alzheimer do que pessoas que nunca usaram esses medicamentos, os dados devem ser analisados com cautela, pelo número reduzido de estudos e pela possibilidade de causalidade reversa2.
Estudos publicados após a revisão sistemática de Zhong et al não confirmaram a hipótese de associação causal entre benzodiazepínicos e Alzheimer. Um estudo de coorte conduzido por Gray e colaboradores concluiu que o risco de demência é ligeiramente maior em pessoas com exposição mínima a benzodiazepínicos, mas não com o nível mais elevado de exposição3Em outro estudo, concluiu-se que após a fase prodrômica (primeiros sintomas), o uso de benzodiazepínicos, não foi associado a um risco aumentado de desenvolver Alzheimer ou demência4.

Em conclusão, é precipitado afirmar que benzodiazepínicos podem aumentar o risco de desenvolvimento de Alzheimer, sem que haja fatores genéticos e ambientais envolvidos. Recomendamos que pacientes que usam esses medicamentos sejam monitorados pelo médico prescritor e pelo farmacêutico, por meio de seguimento farmacoterapêutico.
Texto elaborado por Acadêmico Iago Christofoli
Revisado por Prof. Tatiane da Silva Dal Pizzol

  1. DUNCAN, B.B.; SCHMIDT, M.I.; GIUGLIANI, E.R.J.; Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013. 
  2. Zhong , Wang Y, Zhang Y, Zhao Y.Association between Benzodiazepine Use and Dementia: A Meta-Analysis. PlosOne, 2015. Disponível para acesso em:https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26016483.
  3. Gray SL, Dublin S, Yu O, Walker R, Anderson M, Hubbard RA, Crane PK, Larson EB. Benzodiazepine use and risk of incident dementia or cognitive decline: prospective population based study, 2016. Disponível para acesso em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26837813.
  4. Imfeld P, Bodmer M, Jick SS, Meier CR. Benzodiazepine Use and Risk of Developing Alzheimer's Disease or Vascular Dementia: A Case-Control Analysis, 2016.Disponível para acessoem: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pubmed/26123874


24 de mar. de 2017

Qual a diferença entre o mononitrato e o dinitrato de isossorbida?



Os nitratos têm ação farmacológica similar1,2,3, porém, possuem diferenças quanto à farmacocitica, indicações de uso, doses e posologia. O mononitrato de isossorbida é metabólito ativo da forma dinitrato1,4,5. O mononitrato de isossorbida difere do dinitrato em variáveis do perfil farmacocitico3: não sofre metabolismo de primeira passagem, tem um tempo de meia-vida de eliminação longa (5h), não possui metabólitos ativos, a biodisponibilidade é aproximadamente 100% e os veis séricos são mais reprodutíveis e previsíveis.
Comparando os perfis farmacocinéticos, observa-se que devido à sua alta lipofilicidade, o dinitrato de isossorbida é bem absorvido por via sublingual e permite redução dos sintomas da crise de angina em aproximadamente 5 minutos1.
O mononitrado de isossorbida é utilizado no tratamento de manutenção da angina(uso crônico)1,4,5, enquanto o dinitrato de isossorbida é administrado em pacientes que não respondem à nitroglicerina sublingual1,4,5 e para o tratamento das manifestações agudas da angina instável, ou seja, dor no peito mesmo em situações de repouso6.
Ressalta-se que o mononitrato e o dinitrato de isossorbida possuem características próprias, além de formas farmacêuticas variáveis, proporcionando diferenças na terapêutica, por isso não são intercambiáveis. A troca entre estes fármacos não deve ser realizada sem o conhecimento do médico prescritor.


Texto elaborado por Acadêmico Iago Christofoli
Revisado por Prof. Tatiane da Silva Dal Pizzo


REFRENCIAL BIBLIOGRÁFICO

  1. SWEETMAN S. (Ed), Martindale: the complete drug reference. London: Pharmaceutical Press. Electronic version, Greenwood Village, Colorado: Truven Health Analytics. The Healthcare Business of Thomson Reuters. Disponível em: http://www.micromedexsolutions.com/home/dispatch. Acesso em: 20/03/2017.
  2. MCEVOY, G. K. (Ed.) AHFS Drug Information. Bethesda: ASPH, 2014.
  3. DRUGDEX® System. MICROMEDEX® Truven Health Analytics. The Healthcare Business of Thomson Reuters.Disponível em: http://www.micromedexsolutions.com/home/dispatch. Acesso em: 20/03/17.
  4. SNOKE, J. et al. Drug Information Handbook. 23. ed. Hudson: Lexi-comp, 2014.
  5. FUCHS, F. D.; WANNMACHER, L. Farmacologia Clínica: fundamentos da terapêutica racional. 4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan, 2010.
  6. DUNCAN, B.B.; SCHMIDT, M.I.; GIUGLIANI, E.R.J.; Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.

17 de mar. de 2017

QUAL O MELHOR TRATAMENTO PARA AFTAS?

            
Aftas são inflamações na mucosa oral, pequenas e brancas cercadas por uma área avermelhada1,2,3. As aftas não são contagiosas, mas muitas vezes são confundidas com herpes1,2
A deficiência de ácido fólico, zinco, ferro, vitaminas B1, B2, B6, B12, hábitos alimentares1,2 e tabagismo1 podem ser a causa das aftas1,2.
O diagnóstico é geralmente clínico, biópsia só é necessária quando a afecção perdurar por mais de 3 semanas3.
Apesar de serem classificadas como transtorno autolimitado, as aftas são incômodas e podem ser recorrentes em nossas vidas. Mas qual é a melhor forma de tratá-las? 
O primeiro manejo a ser realizado é a revisão dos hábitos alimentares. Havendo necessidade enxaguar com bicarbonato de sódio e colocar leite de magnésio na afecção bucal. Se essas medidas não solucionarem o problema, é recomendado o uso de medicamentos tópicos (Nesse caso interromper a ingestão de alimentos por 30-60 minutos após a administração da dose)2,3.
Lidocaína para dor e dexametasona 5% ou triancinolona 3 vezes2 ou 4 vezes por 2 semanas3 ao dia são indicados para aftas menores2.
Clobetasol 0,05% por via tópica também é indicado para aftas em adultos2.
Alguns medicamentos sistêmicos podem ser eficazes para pacientes com aftas recorrentes.Tratamento com montelucaste, prednisona, beta-glucano, Acacia eriolobae e homeopatia individualizada despontam como as melhores alternativas2.
Para quadros mais graves, cauterização com nitrato de prata é uma escolha2.
Para prevenção, recomenda-se evitar alimentos e condimentos ácidos, evitar falar quando estiver mastigando, usar fio-dental, escovar os dentes após as refeições, além de ter sono e repouso adequados2.
Evitar pasta de dente contendo lauril sulfato de sódio, mesmo que conflitante a informação, e suplementar com vitamina B12, ômegae ácido ascórbico1,2  podem reduzir a frequência e a duração das aftas2.
Para qualquer tratamento medicamentoso ou não, o CIM-RS recomenda o auxílio de um profissional da saúde.
Persistindo os sintomas após 2 semanas de tratamento, procurar auxílio médico ou odontológico.

Texto elaborado por Acadêmico Iago Christofoli

Revisado por Farm. Alexandre Sartori e Prof.ª Isabela Heineck.


REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

  1. DUNCAN, B.B.; SCHMIDT, M.I.; GIUGLIANI, E.R.J.; Medicina Ambulatorial: condutas de atenção primária baseadas em evidências. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2013.
  2. DYNAMED OVERVIEW. Disponível em: http://web.a.ebscohost.com/dynamed/search/basic. Acesso em: 17/03/2017.
  3. FISTERRA. Atención Primaria en la Red. Aftas bucales. Disponível em: http://www.fisterra.com/guias-clinicas/estomatitis-aftosa-recurrente/. Acesso em: 17/03/2017.

16 de mar. de 2017

COMUNICADO

Comunicamos, que em caráter excepcional, o CIM-RS funcionará no dia 17/03/2017, próxima sexta-feira, no horário das 13:30h às 17:30h.
Equipe CIM-RS.

10 de mar. de 2017

QUEM DEVE RECEBER SUPLEMENTO DE VITAMINA D? HÁ ALGUM RISCO?


A vitamina D (ergocalciferol D2 e colecalciferol D3), possui usos descritos para recuperação da homeostase do cálcio, regeneração óssea, deficiência da própria vitamina1,2, e vêm sendo investigado seu potencial para doenças cardiovasculares, neoplasias, diabetes, infecções, esclerose múltipla, psoríases e doenças respiratórias2.
Com base em demandas recebidas, o CIM-RS resolveu pontuar sobre o tema.
Em revisão sistemática da Cochrane® do ano de 2014, concluiu-se que a vitamina D associada ao cálcio é capaz de prevenir fraturas3.
Para mulheres grávidas a suplementação com vitamina D em dose única ou continuada pode reduzir o risco de pré-eclâmpsia, baixo peso ao nascer e nascimento prematuro. No entanto, quando a vitamina D e cálcio são combinados, o risco de parto prematuro é aumentado4.
É descrito uso pediátrico de vitamina D como profilaxia5,6,7 e tratamento da deficiência desta vitamina, profilaxia e tratamento de raquitismo5,6. A agencia norte-americanaFoodandDrugAdministration(FDA) aprova o uso de vitamina D como suplementação diária para todas as idades4. No entanto, ingestões diárias de 2.000 UI em crianças ou 75.000 UI em adultos podem produzir sintomas tóxicos associados à hipervitaminose D7, como depósito anormal de cálcio nos tecidos, nas paredes dos vasos sanguíneos e nos rins, induzindo anorexia, cefaleia, astenia, náuseas, vômitos e arritmias cardíacas8,9,10.
Baseado nessas informações, a suplementação com vitamina D, seja medicamentosa ou na dieta, deve seguir recomendações médicas, farmacêuticas ou nutricionais, além do monitoramento de seus possíveis eventos adversos e eficácia.

Texto elaborado por: Acadêmico Iago Christofoli

Revisado por: Farm.Clarissa Ruaro Xavier e Prof. Farm. Tatiane da Silva Dal Pizzol

  1. SWEETMAN S. (Ed), Martindale: the complete drug reference. London: Pharmaceutical Press. Electronic version, Greenwood Village, Colorado: Truven Health Analytics. The Healthcare Business of Thomson Reuters. Disponível em: http://www.micromedexsolutions.com/home/dispatchAcesso em: 10/03/2017
  2. DERMARDEROSIAN, A.; BEUTLER, J. A. (Ed) The Review of Natural Products: the most complete source of natural product information. 7. ed. St. Louis: Facts and Comparisons, 2012.
  3. VITAMINA D E COMPOSTOS DE VITAMINA D RELACIONADOS PARA PREVENIR FRATURAS RESULTANTES DA OSTEOPOROSE EM PESSOAS IDOSAS. Disponível em: http://www.cochrane.org/CD000227/MUSKINJ_vitamin-d-and-related-vitamin-d-compounds-preventing-fractures-resulting-osteoporosis-older-people. Acesso em:
  4. VITAMINA D DURANTE A GESTAÇÃO. REVISÃO SISTEMÁTICA COCHRANE®. Disponível em: http://www.cochrane.org/CD008873/PREG_vitamin-d-supplementation-women-during-pregnancy. Acesso em:
  5. TAKETOMO, C. K., HODDING, J. H., KRAUS, D. M. Pediatric and Neonatal Dosage Handbook. 20 ed. Hudson: Lexi-Comp, 2013.
  6. SANTOS, L.; TORRIANI,M.S.; BARROS, E. Medicamentos na prática da farmácia clínica. Porto Alegre: Artmed, 2013.
  7. DRUGDEX® System. MICROMEDEX® Truven Health Analytics. The Healthcare Business of Thomson Reuters.
  8. POISINDEX® System. MICROMEDEX® Truven Health Analytics. The Healthcare Business of Thomson Reuters. Disponível em: http://www.micromedexsolutions.com/home/dispatch. Acesso em:
  9. DRUG Facts and Comparisons. 2014 Edition. St.Louis: Facts and Comparisons, 2013.
  10. BRASIL, Ministério da Saúde. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos. Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Formulário terapêutico nacional 2010: Rename 2010 / Ministério da Saúde, Secretaria de Ciência Tecnologia e Insumos Estratégicos, Departamento de Assistência Farmacêutica e Insumos Estratégicos. Brasília: Ministério da Saúde, 2010.


3 de mar. de 2017

PERGUNTE AO CIM: propranolol, hidroclorotiazida mais diabetes, há interação?


PERGUNTE AO CIM

Propranolol e hidroclorotiazida administrados associados em pacientes com hipertensão arterial sistêmica e diabetes interferem no controle glicêmico? Se sim, qual a importância clínica?
Propranolol e hidroclorotiazida são comumente prescritos; Fazem parte da REMUME (Relação Municipal de Medicamentos Essenciais) da maior parte dos municípios gaúchos, Porto Alegre1, Gravataí2, Santa Maria3, dentre outros.
O propranolol, é um beta-bloqueador, tem usos aprovados para as seguintes morbidades: angina pectoris, hemangioma capilar, disritmia, tremores, hipertensão, estenose subaórtica idiopática, enxaqueca, feocromocitoma e infarto agudo do miocárdio4,5,6.
Já a hidroclorotiazida, uma tiazida, tem indicação clínica aprovada para: hipertensão arterial sistêmica e edema4,5,6.
Uma interação entre os fármacos, somada à presença da diabetes, é descrita como grave/moderada5,7, com início tardio7. Tal interação pode causar hiperglicemia em função do propranolol aumentar o efeito hiperglicêmico da hidroclorotiazida. Quando ambos estão sendo usados, deve-se monitorar rigidamente a glicemia e a lipidemia do paciente7.
Individualmente a hidroclorotiazida pode causar hiperglicemia em pacientes diabéticos, sendo recomendada cautela em seu uso nesse caso específico.Em algumas situações pode ser necessário ajuste da dose de insulina ou do hipoglicemiante oral. Tolerância anormal à glicose geralmente não ocorre em pacientes recebendo tiazidas5,6,8.
Propranolol pode causar hipo/hiperglicemia. Os beta-bloqueadores podem causar hipoglicemia em não diabéticos, possivelmente devido ao aumento da captação periférica de glicose através do aumento da sensibilidade à insulina6,8,9.
Nestas situações, é recomendável estreita relação entre médico e o paciente, além de acompanhamento farmacêutico por meio de um seguimento farmacoterapêutico.

Texto elaborado por Acadêmico Iago Christofoli

Revisado por Clarissa Ruaro Xavier

  1. REMUME PORTO ALEGRE 2016. Disponível em: http://lproweb.procempa.com.br/pmpa/prefpoa/sms/usu_doc/remumearquivo24.11.16site.pdf. Acesso em: 02/03/2017.
  2. REMUME GRAVATAÍ 2016-2019. Disponível em: http://www.saude.rs.gov.br/upload/1471009389_PES%202016-2019%20-%2012%2008.pdf. Acesso em: 02/03/2017
  3. REMUME SANTA MARIA 2016. Disponível em: http://www.santamaria.rs.gov.br/saude/335-assistencia-farmaceutica. Acesso em: 02/03/2017.
  4. DRUGDEX® System. MICROMEDEX® Truven Health Analytics. The Healthcare Business of Thomson Reuters. Disponível em: http://www.micromedexsolutions.com/home/dispatch. Acesso em: 02/03/2017.
  5. SNOKE, J. et al. Drug Information Handbook. 23. ed. Hudson: Lexi-comp, 2014
  6. MCEVOY, G. K. (Ed.) AHFS Drug Information. Bethesda: ASPH, 2014.
  7. DRUG-REAX® System. MICROMEDEX® Truven Health Analytics. The Healthcare Business of Thomson Reuters. Disponível em: http://www.micromedexsolutions.com/home/dispatch. Acesso em: 02/03/2017
  8. DRUG Facts and Comparisons. 2014 Edition. St.Louis: Facts and Comparisons, 2013
  9. SWEETMAN S. (Ed), Martindale: the complete drug reference. London: Pharmaceutical Press. Electronic version, Greenwood Village, Colorado: Truven Health Analytics. The Healthcare Business of Thomson Reuters. Disponível em: http://www.micromedexsolutions.com/home/dispatch. Acesso em: 02/03/2017