19 de mai. de 2016

Cigarros eletrônicos: quando o mito será desvendado?

               


             O uso de tabaco, principalmente em cigarros, é uma das maiores causas de morte e doenças preveníveis no mundo. É estimado que mais de um sexto da população mundial é fumante e que 6 milhões de pessoas morrem por ano por doenças relacionadas ao fumo1.
               Há longa data alternativas de auxílio para o abandono desse hábito são criadas e estimuladas: grupos de apoio, adesivos de nicotina, apoio psicológico. Nos últimos anos, uma nova estratégia vem sendo promovida entre a população fumante e chamando a atenção até mesmo de não fumantes: o cigarro eletrônico, ou e-cigarette. O cigarro eletrônico vêm chamando a atenção por ser considerado mais seguro e menos nocivo a saúde que cigarros normais de nicotina2.  Mas será que isso é verdade?
Promovidos como uma alternativa para reposição de nicotina alternativa de manter o hábito de fumar, mas sem os malefícios da fumaça de combustão de todos os outros elementos presentes em um cigarro convencional, os cigarros eletrônicos vêm cada vez ganhando mais adeptos. Com seus primeiros representantes sendo apenas versões eletrônicas simples da sua versão convencional, a segunda geração de e-cigarettes permite regular a liberação de nicotina, controle de temperatura e de produção de vapor3,4. Além de uma grande variedade de cores, formatos e combinações, tornando fumar “divertido”. Entretanto não se tem certeza ainda do quão seguros e eficientes estes novos cigarros são.
          Em estudo realizado com 150 médicos nos Estados Unidos, dois terços dos entrevistados relataram já terem sido perguntados sobre cigarros eletrônicos por pacientes, mas somente metade destes admitiu ter recomendado o seu uso5. Entretanto, muitos fumantes acabam não falando com seus médicos sobre o assunto e preferem consultar linhas telefônicas de ajuda para o abandono de cigarro e acabam conversando muitas vezes com conselheiros leigos fora da área da saúde. Estudo realizado na américa do Norte em 2014 demonstrou que a maioria destes conselheiros não vê e-cigarettes como uma boa alternativa para parar de fumar e até mesmo que são viciantes6.
      Uma revisão sistemática publicada esse ano analisou qualitativamente e quantitavamente a literatura sobre os efeitos de cigarros eletrônicos.       Esta revisão mostrou que não é possível concluir se cigarros eletrônicos são efetivos como auxílio para parar de fumar devido à baixa força das evidências. Existe alguma informação indicando que e-cigarettes de segunda geração podem ajudar fumantes a largar o hábito de maneira mais eficaz que os de primeira geração, por diminuírem o aparecimento de sintomas e ânsias relacionados a falta de nicotina7.
          Cigarros eletrônicos também vêm causando alvoroço por serem permitidos em alguns lugares públicos pelo argumento de não fazem mal a saúde. Estudo realizado avaliou a quantidade de nicotina presente em fluidos orais e respiração de fumantes passivos em lugares fechados, mostrando que exposição a cigarros eletrônicos resulta a cerca de 7 vezes menos nicotina na respiração e 3 vezes menos em fluídos orais que cigarros convencionais de tabaco, entretanto não discute se essa concentração de nicotina poderia já ser considerada segura8.
            Alguns estudos ainda mostraram que existe uma pequena tendência de e-cigarettes promoveram um menor risco cardiovascular que cigarros convencionais pela não combustão do tabaco10,11. Ainda assim mais estudos com maior profundidade e solidez devem ser realizados para que seja possível afirmar com certeza se cigarros eletrônicos são realmente melhores ou não que cigarros convencionais para a saúde.


Texto elaborado por 
Gustavo F Marcowich
Revisada por
Tatiane Dal Pizzol

  1. (Jha P. Avoidable global cancer deaths and total deaths from smoking. Nat Rev Cancer. 2009;9(9):655–64. doi: 10.1038/nrc2703.)
  2. Wong LP1, Mohamad Shakir SM2, Alias H2, Aghamohammadi N2, Hoe VC2., Reasons for Using Electronic Cigarettes and Intentions to Quit Among Electronic Cigarette Users in Malaysia. J Community Health. 2016 May 4. & Pepper JK1, Emery SL2, Ribisl KM1, Southwell BG3, Brewer NT1. Effects of advertisements on smokers' interest in trying e-cigarettes: the roles of product comparison and visual cues. Tob Control. 2014 Jul;23 Suppl 3:iii31-6. doi: 10.1136/tobaccocontrol-2014-051718.)
  3. Dawkins L, Kimber C, Puwanesarasa Y, Soar K. First- versus second-generation electronic cigarettes: predictors of choice and effects on urge to smoke and withdrawal symptoms. Addiction. 2015 Apr;110(4):669-77. doi: 10.1111/add.12807. Epub 2014 Dec 22.
  4. Lechner WV, Meier E, Wiener JL, Grant DM, Gilmore J, Judah MR, Mills AC, Wagener TL. The comparative efficacy of first- versus second-generation electronic cigarettes in reducing symptoms of nicotine withdrawal. Addiction. 2015 May;110(5):862-7. doi: 10.1111/add.12870. Epub 2015 Mar 5.
  5. (Steinberg MB1, Giovenco DP2, Delnevo CD3. Patient-physician communication regarding electronic cigarettes. Prev Med Rep. 2015 Feb 2;2:96-8. doi: 10.1016/j.pmedr.2015.01.006. eCollection 2015.
  6. Sharon Cummins a,e, Scott Leischow b, Linda Bailey c, Terry Bushd, KenWassum d, Lesley Copeland e, Shu-Hong Zhu. Knowledge and beliefs about electronic cigarettes among quitline cessation staff. Addictive Behaviors 60 (2016) 78–83 )
  7. Malas M, van der Tempel J, Schwartz R, Minichiello A, Lightfoot C, Noormohamed A, Andrews J, Zawertailo L, Ferrence R. Electronic Cigarettes for Smoking Cessation: A Systematic Review. Nicotine Tob Res. 2016 Apr 25. pii: ntw119
  8. Gallart-Mateu D, Elbal L, Armenta S, de la Guardia M. Passive exposure to nicotine from e-cigarettes. Talanta. 2016 May 15;152:329-34. doi: 10.1016/j.talanta.2016.02.014. Epub 2016 Feb 3.
  9. Soule EK, Maloney SF, Spindle TR, Rudy AK, Hiler MM, Cobb CO. Electronic cigarette use and indoor air quality in a natural setting. Tob Control. 2016 Feb 15. pii: tobaccocontrol-2015-052772. doi: 10.1136/tobaccocontrol-2015-052772
  10. Neal L. Benowitz, MD and Andrea D. Burbank, MD. Cardiovascular toxicity of nicotine: Implications for electronic cigarette use. Trends Cardiovasc Med. 2016 Mar 10. pii: S1050-1738(16)00053-0. doi: 10.1016/j.tcm.2016.03.001
  11. Yan XS, D'Ruiz C. Effects of using electronic cigarettes on nicotine delivery and cardiovascular function in comparison with regular cigarettes. Regul Toxicol Pharmacol. 2015 Feb;71(1):24-34. doi: 10.1016/j.yrtph.2014.11.004. Epub 2014 Nov 22.

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