O número de crianças
e adolescentes com diagnóstico de Transtorno de Déficit de Atenção e
Hiperatividade (TDAH) cresceu nos últimos anos, com estimativas de prevalência
no Brasil variando entre 0,9% e 26,8%. Em
matéria publicada no jornal Zero Hora, em 11 de agosto de 2014, a psicóloga
Denise Barros afirma que especialistas acreditam que o elevado número de
diagnósticos se deve ao aumento da divulgação da doença e do número de pessoas
que passaram a ter acesso ao tratamento
O
diagnóstico do TDAH é essencialmente clínico e subjetivo, devendo considerar o histórico
de comportamento do paciente, em que os sintomas, obrigatoriamente, levam a
algum tipo de dificuldade ou impedimento para a realização de tarefas. O
diagnóstico deve excluir outras doenças, problemas socioambientais e deve, também,
diferenciar o TDAH de padrões típicos de comportamento da faixa etária e os
apresentados pelos indivíduos. A Associação Brasileira de Déficit de Atenção
assume que o TDAH é um transtorno neurobiológico, de causas genéticas, que
aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida.
No entanto
existem evidências de que crianças que não possuem TDAH estariam sendo
medicadas e sem necessidade, conforme edição do Boletim Brasileiro de Avaliação
de Tecnologias em Saúde (BRATS) sobre o tema. Um fator que pode contribuir para
o excesso de diagnósticos de TDAH, é que os sintomas sugestivos dessa doença são
comuns em crianças e jovens e frequentemente identificados por seus pais,
professores ou médicos. O tratamento pode contar com intervenções sociais,
psicológicas, comportamentais e farmacológicas. O medicamento mais utilizado é
o metilfenidato, um agente estimulante do sistema nervoso central, indicado
como adjuvante às intervenções destinadas ao tratamento de distúrbios de
hiperatividade.
Recentemente, circulou na imprensa,
uma notícia sobre o aumento de 775% no consumo de metilfenidato no Brasil, nos
últimos 10 anos. A notícia faz referência à tese de doutorado da psicóloga
Denise Barros, que compilou dados dos relatórios anuais sobre substâncias
psicotrópicas da Junta Internacional de Controle de Narcóticos, órgão vinculado
às Nações Unidas. Segundo dados da Anvisa, o
número de caixas de metilfenidato vendidas no Brasil passou de 2,1 milhões em
2010 para 2,6 milhões em 2013.
A
elevação do consumo de metilfenidato pode ser atribuída ao aumento de
prescrições para pacientes diagnosticados com TDAH, a prescrições decorrentes
de diagnósticos imprecisos, e também ao uso não prescrito com finalidades de
aprimoramento cognitivo ou recreação. Considerando que o metilfenidato possui
um alto potencial para abuso e dependência e o risco de reações adversas
importantes, diagnósticos equivocados, em que dificuldades de desempenho podem
estar sendo confundidos com doença, e à pratica do consumo indevido, se faz
necessária a discussão sobre o uso racional do medicamento.
Cabe
ressaltar que o metilfenidato consta no rol dos psicotrópicos - lista A3 - da
Portaria SVS/MS n° 344, de 12 de maio de 1998, e sua venda está condicionada à
retenção da notificação de receita.
Considerando
a necessidade de discussão sobre o uso racional do metilfenidato, recomendamos a
leitura do Boletín de Información Farmacoterapéutica
de Navarra sobre TDAH
e seu tratamento, que apresenta uma análise crítica da evolução do diagnóstico
e uma revisão dos aspectos de eficácia e segurança do tratamento farmacológico.
Boa
leitura,
Equipe
CIM-RS.
Fontes:
-
MINISTÉRIO DA SAÚDE. Secretaria de Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos.
BRATS - Boletim Brasileiro de Avaliação de Tecnologias em Saúde. Metilfenidato no tratamento de crianças com
transtorno de déficit de atenção e hiperatividade. Ano VIII nº 23 - março
de 2014. Disponível em: http://200.214.130.94/rebrats/publicacoes/brats23.pdf. Acesso em: 08 out.
2014.