13 de jul. de 2016

Vacinas e Autismo: Vacinar ou não vacinar



Nos últimos anos vem crescendo o número de pais e mães que optam por não vacinar seus filhos com receio que a vacinação possa levar a futuras doenças. Esse comportamento pode estar contribuindo para o aumento na incidência de doenças preveníveis, como sarampo, catapora e rubéola. No Brasil, tivemos um aumento de 2 casos  de sarampo em 2002 para 204 em 20141. Este comportamento foi visto também em outros países como Austrália e Estados Unidos, que teve 17 surtos de sarampo só em 20112.

Mas porque algumas pessoas pararam de vacinar seus filhos? Talvez uma das razões esteja relacionada com uma publicação em 1998 feita por Andrew Wakefield, um médico cirurgião, que dizia ter achado uma relação entre vacinação e o surgimento de sintomas de autismo.

Autismo representa um grupo heterogêneo de condições de desenvolvimento neurológico caracterizado por déficits sociais e de comunicação, acompanhada por comportamentos repetitivos e estereotipados, insistência na repetição de atividades e problemas sensoriais, com início geralmente antes de três anos de idade. Essa doença pode variar de muito leve a muito grave e pode acometer qualquer etnia ou grupo socioeconômico3.

Essa pesquisa4 recebe até hoje muitas críticas por usar metodologia questionável sem embasamento estatístico ou uso de grupo controle. Mesmo assim, as informações se espalharam rapidamente e um surto de pais negando-se a vacinar seus filhos começou. Entretanto com o passar do tempo, mais e mais artigos vêm sendo publicados desmentindo a hipótese levantada por Wakefield. Em 2011, o British Medical Journal (BMJ) concluiu que o autor falsificou e alterou os dados dos pacientes em estudo.
Em entrevista a CNN, a editora-chefe do BMJ, Fiona Godlee afirmou: “Uma coisa é  ter um estudo ruim, um estudo cheio de erros, e o autor, posteriormente, admitir que cometeu erros. Mas neste caso, temos um quadro muito diferente. Parece ser uma tentativa deliberada de criar uma impressão de que havia uma ligação (entre vacinas e autismo) através da falsificação de dados."

Mercúrio, orgânico ou inorgânico, é tido como o principal vilão da história com algumas pesquisas apontando uma relação entre exposição a este fator e o futuro desenvolvimento de autismo. Entretanto, uma metanálise divulgada em 2014 envolvendo 5 estudos de coorte com 1.256.407 crianças e 5 estudos caso-controle com 9.920 crianças não apontou qualquer relação entre vacinas (tríplice ou não), timerosal ou mercúrio e autismo ou doenças relacionadas5. O mesmo artigo de Taylor e equipe apresentou resultados de outras 12 revisões sistemáticas: 11 delas corroboravam com os resultados obtidos, enquanto a outra não descartava que autismo poderia ser causado por diversos fatores, um deles a exposição a mercúrio.
Os resultados dessa metanalise ressaltam a importância da continuidade de vacinação para evitar doenças como sarampo, catapora e rubéola - praticamente erradicadas de diversos países. De acordo com esta metanálise, as crianças vacinadas não estarão em maior risco de desenvolver autismo em comparação com as não vacinadas. Estas apenas apresentarão maior chance de desenvolver as doenças já citadas e suas complicações.

Para ler a metanálise na íntegra, clique aqui

Texto elaborado por Gustavo F Marcowich e revisado por Tatiane Dal Pizzol.

REFERÊNCIAS
      1.     BRASIL. SUS. Portal Saúde: Sarampo, Situação epidemiológica/Dados. Disponível em:  
                http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/junho/05/Casos-confirmados-de-Sarampo-2014.pdf Acessado
                em 06/07/2016.
2.     CDC. Morbidity and Mortality weekly Report. Measles - United States, 2011. Disponível em http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm6115a1.htm?s_cid=mm6115a1_w#fig1 Acessado em 15/06/2016
3.     Saccoa R., Gabrielea S., Persicoa A.M. Head circumference and brain size in autism spectrum disorder: A systematic review and meta-analysis. Volume 234, Issue 2, 30 November 2015, Pages 239–251
4.     Wakefield, A.J., Illeal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific colitis and pervasive development disorder in children. 1998 Fev 28
5.     Taylor LE, Swerdfeger AL, Eslick GD. Vaccines are not associated with autism: an evidence-based meta-analysis of case-control and cohort studies. Vaccine. 2014 Jun 17;32(29):3623-9. doi: 10.1016/j.vaccine.2014.04.085. Epub 2014 May 9.

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