Nos últimos
anos vem crescendo o número de pais e mães que optam por não vacinar seus
filhos com receio que a vacinação possa levar a futuras doenças. Esse
comportamento pode estar contribuindo para o aumento na incidência de doenças preveníveis, como sarampo,
catapora e rubéola. No Brasil, tivemos um aumento de 2 casos de sarampo
em 2002 para 204 em 20141. Este comportamento foi visto também em
outros países como Austrália e Estados Unidos, que teve 17 surtos de sarampo só
em 20112.
Mas porque algumas pessoas pararam de vacinar seus filhos? Talvez uma
das razões esteja relacionada com uma publicação em 1998 feita por Andrew Wakefield,
um médico cirurgião, que dizia ter achado uma relação entre vacinação e o
surgimento de sintomas de autismo.
Autismo representa um grupo heterogêneo de condições de desenvolvimento
neurológico caracterizado por déficits sociais e de comunicação, acompanhada
por comportamentos repetitivos e estereotipados, insistência na repetição de
atividades e problemas sensoriais, com início geralmente antes de três anos de
idade. Essa doença pode variar de muito leve a muito grave e pode acometer
qualquer etnia ou grupo socioeconômico3.
Essa pesquisa4 recebe
até hoje muitas críticas por usar metodologia questionável sem embasamento
estatístico ou uso de grupo controle. Mesmo assim, as informações se espalharam
rapidamente e um surto de pais negando-se a vacinar seus filhos começou.
Entretanto com o passar do tempo, mais e mais artigos vêm sendo publicados
desmentindo a hipótese levantada por Wakefield. Em 2011, o British Medical
Journal (BMJ) concluiu que o autor falsificou e alterou os dados dos pacientes
em estudo.
Em entrevista a CNN, a editora-chefe do BMJ, Fiona Godlee afirmou: “Uma
coisa é ter um estudo ruim, um estudo cheio de erros, e o autor,
posteriormente, admitir que cometeu erros. Mas neste caso, temos um quadro
muito diferente. Parece ser uma tentativa deliberada de criar uma impressão de
que havia uma ligação (entre vacinas e autismo) através da falsificação de
dados."
Mercúrio, orgânico ou inorgânico, é tido como o principal vilão da
história com algumas pesquisas apontando uma relação entre exposição a este
fator e o futuro desenvolvimento de autismo. Entretanto, uma metanálise
divulgada em 2014 envolvendo 5 estudos de coorte com 1.256.407 crianças e 5
estudos caso-controle com 9.920 crianças não apontou qualquer relação entre
vacinas (tríplice ou não), timerosal ou mercúrio e autismo ou doenças
relacionadas5. O mesmo artigo de Taylor e equipe apresentou
resultados de outras 12 revisões sistemáticas: 11 delas corroboravam com os
resultados obtidos, enquanto a outra não descartava que autismo poderia ser
causado por diversos fatores, um deles a exposição a mercúrio.
Os resultados dessa metanalise ressaltam a importância da
continuidade de vacinação para evitar doenças como sarampo, catapora e rubéola
- praticamente erradicadas de diversos países. De acordo com esta metanálise,
as crianças vacinadas não estarão em maior risco de desenvolver autismo em
comparação com as não vacinadas. Estas apenas apresentarão maior chance de
desenvolver as doenças já citadas e suas complicações.
Para ler a metanálise na íntegra, clique aqui
Texto elaborado por Gustavo F Marcowich e revisado por Tatiane Dal Pizzol.
REFERÊNCIAS
1. BRASIL. SUS.
Portal Saúde: Sarampo, Situação epidemiológica/Dados. Disponível em:
http://portalsaude.saude.gov.br/images/pdf/2014/junho/05/Casos-confirmados-de-Sarampo-2014.pdf
Acessado
em 06/07/2016.
2.
CDC.
Morbidity and Mortality weekly Report. Measles - United States, 2011.
Disponível em http://www.cdc.gov/mmwr/preview/mmwrhtml/mm6115a1.htm?s_cid=mm6115a1_w#fig1 Acessado em 15/06/2016
3.
Saccoa R., Gabrielea S., Persicoa A.M. Head circumference and brain size
in autism spectrum disorder: A systematic review and meta-analysis. Volume 234,
Issue 2, 30 November 2015, Pages 239–251
4.
Wakefield, A.J., Illeal-lymphoid-nodular hyperplasia, non-specific
colitis and pervasive development disorder in children. 1998 Fev 28
5. Taylor LE, Swerdfeger AL, Eslick
GD. Vaccines are not associated with autism: an evidence-based meta-analysis of
case-control and cohort studies. Vaccine. 2014 Jun
17;32(29):3623-9. doi: 10.1016/j.vaccine.2014.04.085. Epub 2014 May 9.
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